sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Setembro



Michael Earl Craig

GAMES IN THE SAND

As a boy I was taught not
to gobble my chocolates.
I had just learned to walk
and I’d play a game in the sand
with the other children.
I would stand there with my stick
and draw an animal from memory.
A cougar. A vole.

I’d draw an animal from memory
and ask them to guess.
If they guessed wrong
something terrible would happen
that week to someone in their family.

And then there’s you.
When you were young you’d lay about
on a huge silk cushion
pulling the wings off hornets,
careful not to disturb them
in any other manner.
We were made for each other.

You, you gobbled your chocolates,
but we worked on that.
Now those days are behind us.

And you say “huffing gas again.”
And I can’t keep from smiling a little.
As tourniquets of light cut across our field of vision.
And childhood memories flash like swans.
And we can run down the gazelles just by thinking it.
And it’s still like being little, really.

M.E.C.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

MARK LAMMERT



A MORTE DE SÉNECA


Que pensou Séneca (sem o dizer)
Quando o capitão da guarda pessoal de Nero mudo
Tirou da couraça a sentença de morte
Selada do discípulo para o mestre
(Tinha aprendido a escrever e selar
E a desprezar todas as mortes em vez
Da própria: regra de ouro de toda a arte da política)
Que pensou Séneca (sem o dizer)
Quando proibiu de chorar os convidados e os escravos
Que tinham partilhado com ele a última refeição
Os escravos no topo da mesa AS LÁGRIMAS SÃO ANTI-FILOSÓFICAS
TEMOS DE ACEITAR O QUE FOI DECIDIDO
E QUANTO A ESTE NERO QUE MATOU
A MÃE E AS IRMÃS PORQUE É QUE ELE
HAVIA DE ABRIR UMA EXCEPÇÃO PARA O SEU MESTRE PORQUÊ
PRESCINDIR DO SANGUE DO FILÓSOFO
QUE NÃO LHE ENSINOU A DERRAMAR SANGUE
E quando mandou que lhe abrissem as veias
Primeiro as dos braços e à mulher
Que não queria sobreviver à sua morte
Com um corte feito por um escravo provavelmente
Também a espada sobre a qual Bruto se deixou cair
No fim da sua esperança republicana
Teve de ser empunhada por um escravo
Que pensou Séneca (sem o dizer)
Enquanto o sangue lento de mais abandonava
O seu corpo velho de mais e o escravo obedecendo ao senhor
Abria também as veias das pernas e da dobra dos joelhos
Murmúrio com as cordas vocais já secas
AS MINHAS DORES SÃO PROPRIEDADE MINHA
A MULHER QUE VÁ PARA O QUARTO AO LADO QUE VENHA O ESCRIBA
A mão já não conseguia segurar o estilete
Mas o cérebro continuava a trabalhar a máquina
Produzia palavras e frases anotava as dores
Que pensou Séneca (sem o dizer)
Entre as letras do seu último ditado
Deitado na otomana do filósofo
E quando esvaziou a taça o veneno de Atenas
Porque a morte se fazia ainda esperar
E o veneno que a muitos ajudara antes dele
Só podia escrever uma nota de pé de página no seu
Corpo já quase sem sangue mas não um texto em letra de forma
Que pensou Séneca (finalmente sem fala)
Quando foi ao encontro da morte no banho de vapor
Enquanto o ar lhe dançava diante dos olhos
O terraço escurecia de um confuso bater de asas
Provavelmente não de anjos a morte também
Não é anjo no tremular das colunas ao reencontrar
A primeira folha de erva que tinha visto
Num campo perto de Córdova alta como árvore nenhuma

Heiner Müller